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Trabalho aqui há 3 meses, mas parece que tem 2 anos?

 Relatos reais sobre desgaste precoce, crescimento acelerado e a maturidade emocional que ninguém vê no crachá


Tem dia que eu paro, olho pra trás e fico tentando lembrar como era minha vida há 3 meses atrás... Porque a sensação é de que envelheci emocionalmente uns dois anos em poucas semanas. Não só de cansaço. Mas de intensidade. De ter vivido o suficiente para me transformar de formas que nem sei se desejei. E ao conversar com colegas, pacientes, amigos… percebo que não estou sozinha.

Essa sensação de tempo emocional distorcido acontece quando vivemos algo em alta intensidade, com muitas demandas mentais e emocionais ao mesmo tempo. É o que a neurociência chama de sobrecarga cognitiva. O cérebro precisa processar um grande volume de informações, decisões, relacionamentos novos, sistemas, códigos sociais. Tudo isso exige atenção, regulação, adaptação. E cada decisão, cada dúvida, cada reunião, pesa mais do que parece.


Mas nem sempre isso vem só como sofrimento. Às vezes o ambiente é mesmo desafiador, mas também oferece aprendizados valiosos. Às vezes tem liderança exigente, mas que também reconhece. Às vezes há pouco tempo de casa, mas uma curva de crescimento absurda. São nesses contextos que pessoas em início de jornada assumem responsabilidades de gente sênior. E fazem. Entregam. Crescem. Mas crescem rápido demais.


O que não é dito com frequência é que amadurecer profissionalmente em ritmo acelerado cobra um preço emocional alto. E não tem a ver com fraqueza. Tem a ver com o fato de que nosso sistema nervoso também precisa de tempo. Para consolidar o que está aprendendo. Para entender onde começa o papel e onde termina a pessoa. Para respirar.

Em muitos casos, o que se sente não é apenas esgotamento, mas um tipo de luto não nomeado. A perda de uma versão nossa mais ingênua, mais protegida. Quando entramos no mercado com um brilho nos olhos e somos rapidamente empurrados para decisões, metas, conflitos e entregas que exigem mais do que achávamos que tínhamos. Crescer é bom, mas também é cansativo.


Na Terapia Cognitivo-Comportamental, trabalhamos muito com a identificação de pensamentos automáticos e esquemas de exigência. Quando se está em um ambiente de alta performance, é fácil ativar crenças como "preciso provar meu valor o tempo todo", "se eu errar, não sirvo para estar aqui", "ninguém pode perceber que estou cansado". E isso vai gerando uma hiperativação do sistema de recompensa e ameaça: ora euforia, ora exaustão. O ciclo se repete, e o corpo paga a conta.


Como dar conta da intensidade sem se perder no processo:


  • Nomeie o que está vivendo. Reconheça que está sendo puxado para níveis altos de desempenho. Isso é crescimento, sim. Mas exige suporte.

  • Faça pausas de revisão. O que você aprendeu até aqui? O que conquistou? O que perdeu no caminho? Dê nome aos seus movimentos internos, não só aos marcos da empresa.

  • Observe se o ambiente oferece estrutura ou apenas expectativa. Crescer rápido sem suporte não é mérito. É risco.

  • Valide com alguém de confiança como estão suas entregas e seu posicionamento. Às vezes o medo de não estar pronto é só medo. E outras vezes, é intuição de que estão pulando etapas importantes.

  • Preste atenção na sua motivação: está aprendendo com prazer ou apenas correndo atrás do próximo desafio com medo de ser esquecido?

  • Celebre. Sim, celebre. Mesmo que tudo esteja corrido, reconhecer pequenas vitórias protege sua identidade de se dissolver na função.

  • Lembre que é possível amadurecer sem se endurecer. Você não precisa virar outra pessoa para dar conta. Precisa se acolher na transição.

O tempo, no mundo corporativo, nem sempre é cronológico. Às vezes é simbólico. Tem três meses que valem por anos. Mas o que define esse valor não é o quanto você se doou para a empresa. É o quanto foi capaz de crescer sem deixar de se reconhecer no espelho.

A pressa por amadurecer pode até render promoção. Mas só a presença com lucidez sustenta quem você está se tornando.


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